Saúde mental e cobertura pelos planos de saúde

Analisando o estudo global liderado por pesquisadores da Universidade de Queensland e da Harvard Medical School revelou que metade da população desenvolverá um transtorno de saúde mental ao longo da vida. Os pesquisadores analisaram dados de mais de 150.000 adultos em 29 países entre 2001 e 2022, obtidos por meio da iniciativa de Pesquisa Mundial de Saúde Mental da Organização Mundial da Saúde. O estudo mostrou que os transtornos de humor, como depressão e ansiedade, foram os mais comuns, com riscos diferenciados entre homens e mulheres. Além disso, os transtornos mentais tendem a surgir na infância, adolescência ou início da vida adulta, destacando a importância de investir em neurociência para compreender suas causas. Os pesquisadores enfatizaram a necessidade de investir em serviços de saúde mental, especialmente para jovens, visando oferecer suporte adequado e oportuno. Os resultados fornecem informações valiosas sobre a prevalência e o momento de início dos transtornos mentais em diferentes populações. O estudo foi publicado na revista The Lancet Psychiatry.

Acesso a Profissionais Especializados
Os planos de saúde, ao oferecerem cobertura por  profissionais especializados no tratamento da saúde mental, estão amparados pela legislação brasileira. A Lei nº 9.656/98, que regulamenta os planos de saúde no país, determina que esses serviços devem garantir assistência integral à saúde, incluindo as áreas de psicologia e psiquiatria. Dessa forma, o beneficiário tem o direito de buscar tratamento com psicólogos e psiquiatras devidamente habilitados, com o custo parcial ou total coberto pelo plano, dependendo do tipo de contrato estabelecido.

Cobertura para Tratamentos Específicos
No contexto dos transtornos mentais, a legislação brasileira também respalda a cobertura de tratamentos específicos. A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) estabelece um Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde, (mínimo) que lista os tratamentos e procedimentos que devem ser obrigatoriamente cobertos pelos planos de saúde. Terapias cognitivo-comportamentais e tratamentos com medicamentos prescritos por psiquiatras são exemplos de procedimentos que, quando indicados clinicamente, devem ser assegurados pelos planos de saúde, garantindo o direito do beneficiário ao tratamento adequado. Vale lembrar que,  desde outubro de 2022,  por determinação da ANS, os planos de saúde não podem mais limitar a quantidade de consultas e sessões de terapias com psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e fisioterapeutas, desde que as sessões sejam prescritas pelo médico assistente do paciente. Antes da normativa, o número de consultas com cada especialidade costumava ser limitado, variando entre 18 e 48 sessões por ano, a depender da especialidade e da necessidade do paciente. Dessa forma, fica garantido o tratamento integral ao paciente. 

Acesso a Redes de Atendimento
A legislação brasileira não impõe restrições quanto à rede de atendimento oferecida pelos planos de saúde, o que permite aos beneficiários escolherem os profissionais e instituições de saúde que melhor atendam às suas necessidades. No entanto, é importante que o plano forneça informações claras sobre a rede credenciada, de forma que o beneficiário possa tomar decisões conscientes em relação ao seu tratamento. Caso ocorram problemas com a rede de atendimento, o beneficiário pode buscar seus direitos junto à ANS ou órgãos de defesa do consumidor, e até procurar profissionais fora da rede , se o plano não oferecer . 

Cobertura de Medicamentos
A cobertura de medicamentos para o tratamento de transtornos mentais também é uma garantia prevista na legislação brasileira. Os medicamentos psiquiátricos indicados por profissionais de saúde habilitados devem ser cobertos pelos planos de saúde, de acordo com o Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde da ANSCaso haja negativa de cobertura por parte do plano, o beneficiário pode recorrer à ANS ou à Justiça para assegurar seu direito ao acesso aos medicamentos essenciais ao tratamento.

Abordagem Holística para o Bem-Estar
A legislação brasileira valoriza a abordagem holística no cuidado com a saúde, o que inclui o bem-estar emocional e mental. A Constituição Federal de 1988 reconhece a saúde como direito de todos e dever do Estado, prevendo a promoção de ações que visem à prevenção e tratamento de doenças, incluindo as de natureza mental. Portanto, os planos de saúde que se comprometem com essa abordagem abrangente estão em consonância com a legislação vigente, garantindo aos beneficiários uma assistência mais completa e adequada. É importante destacar que os tratamentos que são cobertos são aqueles em que há reconhecimento científico conforme  a medicina baseada em evidências . Os planos não estão obrigados a cobrir tratamentos experimentais  e que possam pôr em risco a saúde do usuário . Daí a importância de procurar profissionais qualificados e se informar sobre a cientificidade do tratamento prescrito .

Prevenção e Cuidados Permanentes
A legislação brasileira também destaca a importância da prevenção em saúde mental. É dever dos planos de saúde incentivar ações preventivas, visando identificar precocemente problemas de saúde emocional e promovendo ações educativas que visem ao autocuidado e ao bem-estar dos beneficiários. Além disso, a legislação prevê a manutenção do tratamento contínuo, garantindo que o beneficiário tenha acesso ao acompanhamento necessário para uma melhoria contínua de sua saúde mental.

Apoio às Empresas e seus Colaboradores
Para as empresas que oferecem planos de saúde como benefício para seus colaboradores, a legislação trabalhista brasileira prevê a possibilidade de adesão coletiva a esses serviços. Através dos contratos coletivos, os trabalhadores têm acesso a planos de saúde com condições mais vantajosas, o que contribui para um ambiente de trabalho saudável e produtivo. Ademais, as empresas podem implementar programas de saúde e bem-estar no ambiente de trabalho, visando promover a saúde mental dos funcionários, e isso pode ser encarado como um investimento para evitar problemas futuros e cumprir com suas obrigações legais e éticas.

Conclusão
Em um mundo cada vez mais acelerado e desafiador, cuidar da saúde mental é uma prioridade para o nosso bem-estar geral. Os planos de saúde desempenham um papel crucial ao facilitar o acesso a tratamentos e cuidados especializados, permitindo-nos trilhar um caminho mais equilibrado e feliz. Com a legislação brasileira respaldando os direitos dos beneficiários, é fundamental conhecer e exercer esses direitos para obter a assistência necessária. Lembre-se sempre de valorizar sua saúde mental e não hesite em buscar o apoio necessário para enfrentar os desafios da vida. Cuide de você, cuide da sua mente! 

Espero que este artigo tenha sido esclarecedor e informativo. Se você tiver dúvidas ou quiser compartilhar suas experiências sobre como os planos de saúde auxiliaram no cuidado com a saúde mental, sinta-se à vontade para deixar um comentário abaixo. Até a próxima!

Ana Claudia Brandão
Ana Claudia Brandão

Ana Claudia Brandão de Barros Correia Ferraz é uma jurista de destaque e juíza do Estado de Pernambuco. Sua trajetória acadêmica é marcada por sólida formação em Direito, com doutorado pela Universidade Federal de Pernambuco e pós-doutorado na prestigiada Universidad de Salamanca, Espanha, e na renomada Harvard University, Estados Unidos. Sua atuação no meio jurídico abrange áreas complexas e relevantes, com especialização em Biodireito e Bioética, nas quais tem contribuído de forma significativa.

Além de sua atuação no Poder Judiciário, Ana Claudia também se destaca como escritora. Seus artigos e publicações científicas têm sido reconhecidos por sua relevância e impacto no cenário jurídico e acadêmico. Entre suas obras literárias de destaque, estão os livros "Reprodução Humana Assistida e suas Consequências nas Relações de Família: A Filiação e a Origem Genética sob a Perspectiva da Repersonalização" (Editora Juruá, edições 2009 e 2016) e "Filhos para Cura: O Bebê Medicamento como Sujeito de Direito" (Editora Revista dos Tribunais, 2020).

Ana Claudia também é uma colaboradora quinzenal do jornal Folha de Pernambuco, onde escreve sobre temas relacionados a Direito e Saúde. Suas reflexões e análises têm alcançado grande repercussão e contribuído para o debate público em torno de questões jurídicas e de saúde.

Com um currículo acadêmico e profissional impressionante, Ana Claudia Brandão de Barros Correia Ferraz se consolida como uma referência no campo do Direito, especialmente em Biodireito e Bioética. Sua dedicação à pesquisa, seu compromisso com a justiça e sua habilidade como escritora fazem dela uma influente e respeitada figura no meio jurídico, com relevância nacional e internacional.

Artigos: 27

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